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8 anos de Canadá

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Desde a semana passada eu estava cá com meus botões, refletindo sobre nosso aniversário de Canadá. Foi hoje, 19 de fevereiro, há 8 anos que desembarcamos em Vancouver para começar uma nova etapa das nossas vidas.

Pela manhã, segui com a rotina diária de acordar as crianças e arrumá-las para ir pra escola, preparei as lancheiras, mal dei beijo na mais velha que foi sozinha pro ensaio do coral antes do horário da aula, atravessei a rua pra levar a mais nova às 8:30. Na volta, peguei a carteira, li alguns emails, e fui pro pilates no centro comunitário. A vida como a vida é. Totalmente nos eixos.

Na volta, reli alguns arquivos do blog. Desse e do Destino Canadá. Reli diários de 2006, 2007. Da época em que nos preparávamos para a mudança. De todo o frio na barriga que sentimos na época. Li textos que eu escrevi nos primeiros meses aqui, nos primeiros anos. Revivi aquela insegurança do recomeço, de se sentir perdida, despreparada. O desespero do desemprego, o dinheiro se esvaindo. A saudade absurda da família, dos amigos. As dúvidas. Os momentos tristes quando nos perguntávamos o que estávamos fazendo aqui? A sensação de não pertencer ao lugar, à cultura. Os micos de comunicação, por não falarmos ou entendermos o idioma perfeitamente.

Mas não faltou fé. Confiança de que as coisas iam se ajeitar com o tempo.

E o emprego veio. Como veio a creche da mais velha (que foi tão difícil de conseguir!). Como veio o primeiro apartamento próprio. Como vieram outros empregos. E o meu mestrado. E a casa nova. E a escola melhor para as meninas. E uma nova carreira. Ganhamos uma nova família. Amigos muito queridos. Já misturamos inglês com português. Hoje mesmo, no pilates, eu pensava como o inglês já é tão natural pra mim, que não preciso mais me esforçar pra entender (pra falar, às vezes ainda titubeio um pouco).

Os primeiros anos do imigrante são os mais difíceis, sem dúvida. Todos nos falavam isso na época e só o tempo pôde nos provar que era verdade. Hoje eu sinto que aqui é meu lugar, a minha casa. Já criamos raízes. Eu particularmente amo morar onde eu moro. Eu abro a janela e dou de cara com árvores enormes, sempre verdes, e um horizonte de tirar o fôlego nos dias ensolarados. Eu até sinto falta da chuva quando temos vários dias secos a fio. Cumprimento os vizinhos com sorrisos pela manhã. Já temos restaurantes preferidos, já escolhemos nossas lojas de roupas e sapatos, já memorizamos os corredores dos mercados, sabemos de cor os horários dos ônibus que passam na nossa rua.

Só a saudade da família é que não muda. Não cresce, mas não some tampouco. Aprendemos a conviver com a falta do abraço deles, do convívio. Felizmente os laços não se enfraqueceram, que era um dos meus maiores medos, principalmente por causa das minhas filhas. Elas são bem apegadas aos avós e tios. Sempre que nos reencontramos, o carinho é o mesmo, como se sempre estivéssemos juntos.

A questão é, valeu a pena? Porque quero muitooo mesmo ir para o Canadá, mas mais do que ir, ficar! E o que penso com tudo isso, ter que recomeçar do zero, aprender tudo de novo, se adaptar, as barreiras… vale a pena?

A Erika fez essa pergunta recentemente, na minha postagem de 1 ano de Canadá. A resposta é: sem dúvida. Eu acho que essa nossa mudança foi o maior ato de coragem que nós já fizemos. Coragem e fé, eu diria. Eu tinha muito medo de mudar, mas hoje, 8 anos depois, não me arrependo nem um pouco. Foi – tem sido – uma aventura maravilhosa. Aprendemos muito como indivíduos, nos fortalecemos como família, expandimos nossos horizontes ao conviver com culturas tão distintas da nossa.

Falando da parte profissional, pra quem pensa em sair do Brasil, o segredo, na minha opinião, é ter paciência e dar tempo ao tempo. No início você não vai ter o melhor emprego, nem o melhor salário. Mesmo tendo anos de experiência profissional nas costas, talvez essa experiência seja não seja tão valorizada no seu novo país. Humildade conta muito numa mudança desse porte, porque vai ser necessário engolir alguns sapos, aceitar propostas inferiores às que você estava acostumado no Brasil. Mas com o tempo, o esforço é recompensado. Você começa a criar laços, conhecer pessoas, e ter novas e melhores oportunidades.

Sentimo-nos extremamente gratos e abençoados por tudo que temos vivido nesses 8 anos no Canadá. Eu nunca sonhei em morar fora do Brasil. Aqui não é perfeito, todo lugar tem seus problemas. O importante é estarmos bem onde estivermos e tirarmos proveito de todas as situações que a vida nos apresenta de alguma forma.

Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.

I Coríntios 2:9


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